Em contato com a arte marcial desde pequeno, Ricardo Morganti é o responsável pela disseminação do Morganti Ju-Jitsu, que hoje já se dividiu no Morganti de Contato, que visa os eventos e campeonatos, e o MJJ Esportivo, mais voltado ao público que gosta de praticar o esporte, mas sem competir. Em entrevista exclusiva à TATAME, Ricardo Morganti conta como foi essa transição para os dois estilos criados dentro da modalidade, assim como o crescimento do Morganti de Contato, a primeira edição do GP Morganti de Contato, e a segunda, que trará, pela primeira vez no Brasil, uma luta de MMA entre portadores de deficiência, entre outros assuntos. Confira abaixo:
Como estão os treinos na academia?
Estão ótimos, graças a Deus. Com esta nova perspectiva do Morganti de Contato estamos a mil.
Como você encara esse crescimento do Morganti Ju-Jitsu pelo Brasil? A que você atribui isso?
Eu acho que conseguimos o meio termo entre sermos agressivos e esportivos. Hoje é muito difícil aliar estas duas coisas, principalmente em competições. Nós sabemos que a competição é a maior vitrine de uma luta, mas também sabemos que o volume de pessoas que treinam pode ser grande, mas, quando a modalidade é por nocaute, a proporção de pessoas que treinam e lutam é muito reduzida. Com a divisão entre o Morganti Ju-Jitsu Esportivo e de Contato conseguimos atrair a todos os públicos.
Qual foi a emoção de ver o 1º GP Morganti de Contato obtendo grande sucesso em São Paulo, um dos grandes pólos de artes marciais no Brasil?
Foi fantástico! Esta competição não deveu pra nenhum evento internacional, desde o octógono (de tamanho UFC), até iluminação, announcer, ring girl... Foi muito profissional, em partes pela estrutura que o CEU Vila Rubi nos ofereceu. Quando eu trouxe a ideia para o Fábio Bonadie, diretor esportivo do CEU, ele abraçou e até hoje quer que esse evento esteja entre os maiores do Brasil. Fazemos dentro de um teatro em forma de concha, com som, luz e vídeo de primeiro mundo. Tudo com o apoio da prefeitura de São Paulo, que está apoiando o nosso esporte.
Vocês já estão partindo para a segunda edição do Grand Prix de Morganti de Contato, já que o sucesso do primeiro torneio foi grande. Como funciona esse GP?
Nós estamos indo devagar para crescermos. O primeiro GP teve o lançamento do Morganti de Contato, que é uma regra em que os atletas usam protetores, e lutam dois rounds de 3 minutos, porém eles lutam no primeiro round de quimono e no segundo sem. Nesta edição, estaremos lançando as lutas profissionais e de MMA.
Um problema que temos é que talvez vamos ser a maior liga de MMA do Brasil, por isso temos que ir devagar, pois o que lançamos aqui, em poucos meses teremos os circuitos de Pernambuco, Rio, Brasília, Goiânia, Bahia, Minas se iniciando, criando o maior ranking de atletas e de competições.
Os GPs são modelos muito atrativos para o público, principalmente o leigo, pois os atletas ainda não são famosos, e quando você coloca quatro atletas pra lutar em um dia, o público se identifica com um deles, passa a torcer por ele e começa a gerar ídolos dentro da modalidade.
Vocês também estão incluindo lutas de MMA nos eventos de vocês. Você não teme que a tradição trazida pelo Morganti de Contato acabe sendo ‘engolida’ pelo modelo de lutas das Mixed Martial Arts?
Eu não tenho esse medo, afinal o Morganti Ju-Jitsu é um estilo e não uma regra de competição e, pelo fato de lutarmos as três fases de luta, não temos dificuldade alguma no MMA. Inclusive hoje nosso slogan é “MJJ é a cara do MMA”. Diferente de outras modalidades, onde a competição é mais famosa que o estilo, nossos alunos estão acostumados em competir em qualquer regra, pois fundamentamos a modalidade pelo nível das aulas e não pela competição. Se o MMA se firmar, pra nós está ótimo, pois já existe mídia pra isso. O que queremos é exatamente o contrário: que os atletas de MMA passem a competir no Morganti de Contato como forma de preparação pra eventos de MMA, como acontece com modalidades como o Boxe e o Muay Thai
No Morganti de Contato vocês usam as três partes da luta: em pé, quedas e a luta no chão. Os atletas dessa modalidade podem usar golpes de qualquer modalidade ou só os golpes do tradicional MJJ?
Na verdade a regra do Morganti de Contato é muito semelhante ao MMA, já treinamos todos os golpes válidos. É necessário fazer uma explicação sobre as regras. Em 1992 nós já competíamos no Morganti de Contato e era exatamente como é hoje, porém sem protetores. O problema é que isto afastava os alunos, pois, como falei anteriormente, treinar a grande maioria treina, mas na hora de competir nessas regras, poucos atendem, então decidimos trocar as regras e criamos hoje o que chamamos de Morganti Ju-Jitsu Esportivo: sem soco no rosto, sem socos no chão, visando à massificação. E deu certo. Hoje temos tamanho e margem de manobra pra atingirmos os dois públicos e estamos trabalhando com as duas regras.
O número de adeptos da arte, criada e difundida por você, vem aumentando? Existe algum público em especial que tem procurado mais o MJJ?
Muito. É impressionante como o Morganti Ju-Jitsu vem se firmando. Hoje, nosso problema é falta de professores, pois a demanda é muito alta, somos procurados por todos os públicos e acho que esse é um dos nossos diferenciais: temos até portadores de deficiência treinando. Inclusive, no dia 7 de agosto faremos a primeira luta de MMA para portadores de deficiência no Brasil, e não sei se no mundo!
Com uma maior quantidade de competições que vocês vêm promovendo, você acha que isto facilita o crescimento e desenvolvimento do esporte, já que dá chance para os lutadores se manterem em ritmo de luta?
Já tínhamos muitas competições, mas errávamos por não divulgar, e o foco da mídia são as lutas por nocaute, e não tínhamos. Hoje, através da consultoria que fizemos com a TIKAI Marketing, através do Fábio Seiti, reformulamos toda nossa estrutura e dobramos de tamanho em um ano. As competições são a maior forma de divulgação.
Você acredita que os atletas que queiram migrar do MJJ para o MMA terão certa vantagem em relação aos atletas de outras modalidades específicas, já que o MJJ engloba as três partes da luta?
Acho que hoje não existe quem não treine tudo, a “vantagem” que um atleta de MJJ vai ter é na economia de tempo, pois ele vai treinar tudo em um lugar só. Assim, ele pode concentrar mais tempo na parte física ou outra preparação.
Isso tem acontecido bastante? O MJJ tem ‘perdido’ atletas para o também crescente MMA?
Já prevíamos que os melhores iriam querer lutar MMA e nos preparamos pra isso. Hoje temos uma estrutura invejável aqui em SP na sede mundial, com preparador físico, nutricionista, fisioterapeuta, pilates, octagon, e toda estrutura de sacos, aparadores etc. Assim mantemos nossos atletas treinando dentro do próprio MJJ, competindo pela nossa bandeira.
Como você vê a vinda do UFC, maior evento de MMA do mundo, para o Brasil? Que mudanças você acha que vão acontecer no cenário brasileiro de artes marciais?
Vai ser ótimo, vai trazer mais mídia e mais visibilidade, o problema é como vamos manter essa chama após a ida do UFC, assim como os países que sediam eventos olímpicos: cabe a eles terem a sabedoria de organizar o legado. O UFC vai durar um dia, a mídia poderá explorar isso antes do evento, mas o depois vai ficar para os eventos locais, que terão que se ajustar em termos de investimento para atender a expectativa do leigo, que viu o UFC e terá que assistir eventos locais.
Quais são os planos para o futuro?
Vamos continuar investindo no Morganti de Contato, fortalecendo a equipe de MMA. Em um ano, teremos a maior equipe de MMA do Brasil e a maior liga de MMA. Temos escala pra isso. Sem pressa, chegaremos ao topo dos grandes eventos e, quem sabe, do UFC, sempre respeitando as outras equipes, sem perdemos o aspecto marcial da modalidade. Temos escala, isso vai nos ajudar muito, afinal, esse investimento de 20 anos agora vai aparecer.
Nós abrimos agora um espaço para você mandar o seu recado para a galera...
Quero agradecer aqueles que fizeram essa nova fase do MJJ acontecer: nosso grande amigo Rogério Camões, a quem sempre nos consultamos; Mestre Distak, assim como a galera da XGym, que são nossa inspiração; nossa parceira Chris Paes, que nos auxilia a entender um pouco deste mercado ainda novo pra gente; os dono de campeonatos, Dedé Pederneiras no Shooto e Eraldo Paes no Rio FC, que acreditaram que nossos atletas entrassem nos eventos; a nossa equipe de MMA no Canadá, que nos representa lá desde 2004, em um mercado totalmente diferente do nosso aqui, e a todos os professores e alunos, que estão fazendo essa explosão do MJJ. Não percam: dia 7 de agosto nosso segundo GP de MJJ de Contato. Oss
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